quarta-feira, outubro 22, 2014

Melhor pra mim ou melhor para o Brasil

Meus poucos amigos que postam sobre suas preferências políticas costumam usar uma retórica, que apesar de parecer inocente, é muito ofensiva. Dizem por exemplo que votam na dilma porque não pensam somente em si mesmo, mas sim porque pensam no povo. Falam isso como se quem votasse no Aécio não se preocupasse com o povão.

Essa semana fiz os cálculos e financeiramente pra mim se Dilma for eleita seria muito mais benéfico. Ainda sim, prefiro que Aécio seja eleito porque sei que ele será uma opção menos pior para o país.

E como raios Dilma seria melhor para mim?

Se fizermos um retrospecto econômico do Brasil, desde o império todos os nossos governantes tiveram certa similaridade: O excesso de intervencionismo estatal, as mudanças imprevisiveis e o favorecimento a uma pequena elite com dinheiro do povo. Alguns exemplos dessa receita fracassada:
  1. Na república velha o governo usava dinheiro do povo para comprar e queimar café para manter alto o preço e favorecer a elite cafeeira.
  2. Na ditadura a reserva de mercado não criou industrias competitivas, mas financiou o atraso tecnológico com dinheiro dos pobres.
  3. No governo Sarney o controle estatal de preços derrubou a produtividade e só fez a inflação aumentar ainda mais.
  4. Os desembolsos de um banco de desenvolvimento não popularizaram o empreendedorismo, mas premiaram empresários ligados ao governo.
  5. Uma tributação de nível escandinavo não transformou o Brasil numa Suécia, mas transformou Brasília numa Disneylândia.
Outros exemplos podem ser conferidos neste belissimo texto sobre as lições que não aprendemos no século XX. A parte que fala do Brasil está no final.

Essa semelhança entre os governos brasileiros explica um pouco os sucessivos fracassos em controlar a inflação e obter crescimento econômico sustentável. Foram pequenos períodos de crescimento, sempre seguidos de terríveis crises causadas exatamente pela intervenção excessiva do ciclo anterior. Até que em 1994 algo mudou.

Fernando Henrique estabilizou a economia quebrando o ciclo de intervencionismo que atrasava o país, universalisou a educação e criou os programas sociais. Lula, ao contrário do que todos imaginavam, continuou a política econômica anterior com o tripé econômico, sendo ainda mais rígido e ortodoxo que Fernando Henrique. Isso aliado a expansão das políticas sociais levou o Brasil a outro patamar. Nesta época o Brasil chegou a ser visto com o menina dos olhos do mundo.

Com a crise de 2008 os Estados Unidos e a Europa inundaram o mundo de dolares e euros valorizando artificialmente nossa moeda. O governo Lula fez bem em reagir jogando dinheiro na economia para manter o patamar da moeda. O problema foi que terminada a crise, a nossa nova presidente começou a trabalhar como se o mundo ainda estivesse sendo inundado de dolares e euros.

As politicas economicas que tanto atrasaram o país no século XX começaram a ser colocadas novamente em prática: Controle estatal de preços nas empresas estatais e até algumas privadas; Protecionismo com aumento de taxas de importação premiando a ineficiência e preços altos; descontrole nas contas públicas; e financiamento com dinheiro do fundo de amparo ao trabalhador a grandes monopólios.

Ideológicamente Dilma acredita que inflação deve e pode ser usado para tentar alavancar crescimento, coisa que já está mais que provado não funciona. Dois conselheiros econômicos dela, o Delfim Neto (da ditadura) e o Beluzzo (do plano cruzado) também acreditam nisso. 

Esse retrocesso nos rumos da economia começam a resultar em inflação e estagnação.

Mas ainda não está explicado porque eleger a Dilma seria melhor pra mim...

Inflação é a pior punição economica para quem é pobre. Uma pessoa que recebe pouco dinheiro gasta quase todo seu salário poupando muito pouco. Logo toda renda dela é afetada pela inflação. Além disso não possui acesso a fundos de investimento que protejam seu dinheiro de modo adequado. Aliado a isso, o governo toma 8% todo mês para o FGTS que rende muito menos que a inflação.

Felizmente eu tive oportunidades que muitos brasileiros não tiveram e hoje eu tenho acesso a excelentes fundos de investimento que protegem meu dinheiro da inflação. Além disso meu maior gasto atual é a prestação de um apartamento, que já possui juros pré-fixado e portanto não sofre efeitos maléficos do aumento de preços. Como anualmente meu salário é reajustado pelo IPCA, o melhor pra mim é que a inflação seja alta, e que todo ano haja mais inflação.

Portanto, pra mim, financeiramente eleger Dilma seria muito melhor. Assim como para a maioria de quem é classe média alta pra cima.

Mesmo assim voto no Aécio

Eu não consigo pensar somente em mim. Aqueles que são mais pobres são os que mais sofrem com esse mal, e eu tenho certo nacionalismo burro de querer que o Brasil suba a outro patamar. Gostaria de ver brasileiros com boas idéias poderem alavancar negócios em um ambiente prevísivel sem um presidente que troca as regras do jogo a todo mês. E sem a necessidade de ter que ser amigo do fiscal ou de algum político para conseguir empreender.

Tenho consciência que Aécio não será revolucionário, mas ao menos sabemos que controlará a inflação e ajustará as contas do país que foram desestruturadas pelo governo atual. Além disso uma das promessas dele é em seis meses propor uma reforma tributária. Medida excencial para que se destrave o empreendedorismo no Brasil e possa emancipar as pessoas que hoje são dependentes do governo pelos programas sociais.

Sei que muitos dos meus amigos também votam não pensando em si mesmo. Mas claramente se vê que por terem uma visão torpe da dualidade esquerda direita acabam votando contra o povo. Nesta eleição ambos os candidatos são de esquerda. Mas Aécio representa um modelo economico novo no Brasil, adotado por FH e Lula. Enquanto Dilma representa um modelo econômico fracassado da republica velha, ditadura e sarney.