Discutir sobre liberdade de expressão rende. Existe um pensamento, que felizmente não se extingue, defendendo que não é necessário que o povo tenha tanta informação. Ou seja, que é necessário filtrá-las por um bem maior. Determinadas informações causam revolta e indignação, de forma a atrapalhar o andamento de reformas e obras necessárias para o desenvolvimento social e econômico de uma nação.
Esse tipo de teoria foi utilizado como desculpa pela maioria dos governos totalitários para manter-se tranquilamente no poder. Hittler controlou todos os meios de comunicação da alemanha e conseguiu tranformar, para os alemães, os judeus em seu bode espiatório. Na ditadura militar brasileira a censura tentou impedir a todo custo a investigação e divulgação da tortura que ocorria no Dops.
Se houvesse uma imprensa livre na alemanha do nazismo, como os alemães reagiriam ao saber que seu líder era um judeu? E durante a nossa ditadura, os militares conseguiriam manter-se no poder por tanto tempo se não houvesse a censura?
De fato, para aqueles que estão no poder é bom negócio calar os meios de comunicação, mas para o povo não. O argumento maior de quem defende essa restrição é que o que interessa ao povo é alimentar-se e ter saúde. É óbvio que alimentação e saúde não se podem descartar, mas é possível unir isso com liberdade. Não querer tornar isso possível é sinal de preguiça e incompetência política.
A importância da livre circulação de informações é exatamente para evitar as injustiças e crimes que possam ser causados por aqueles que estão dirigindo a nação. Quanto sofrimento e assassinatos não foram causados por governos com a desculpa de que se estava fazendo o bem coletivo? Até hoje isso ocorre.
Em Cuba por exemplo, os exilados relatam em livros e blogs o que ocorria a eles quando suspeitos de "subversão". Eram mandados para o campo, ficando três anos como escravos sem direito a sequer um julgamento. Humilhados e torturados, mesmo quando inocentes do simples fato de ter uma opinião diferente de Fidel Castro.
Há quem acredite que o regime de Fidel é ideal, pois lá ninguém passa fome, a taxa de analfabetismo é perto do zero e que a saúde é excelente. De fato, os índices sociais parecem ser ótimos, mas isso não é a plena realidade. A população cubana em sua maioria necessita da ajuda oficial do governo para ter o que comer. Os hospitais estão sucateados, sobrevivem ainda da herança da época em que Cuba era uma ilha de prosperidade. Época pré-Fidel, em que a renda per capita era das maiores da américa.
Além disso, saber ler em Cuba não tem muita utilidade. O único jornal é do governo, a única TV é do governo, e as unicas radios também são do governo. Dessa forma, só se descobre a dura realidade do país, a da injustiça e do atraso, quando você vira a vítima da suspeição da inteligência cubana.
Esses que gostam do regime de Fidel têm um ideal de que os seres humanos deveriam viver como colmeias ou formigueiros. A vontade própria e o livre arbítrio não merecem respeito. A base para esse pensamento é que o ser humano é burro, não sabe o que quer, e portanto o estado é que deve prover aquilo que acha que ele necessita. O problema maior disso é que quem gere o estado é outro ser humano. Só uma pessoa muito pretensiosa pode achar que sabe como uma outra pessoa deveria viver. Esse tipo de pessoa existe. Geralmente ela é aquela que colhe os frutos da domesticação do ser humano que é tratado como gado. Este que é tratado como um gado entrega todos seus direitos e deveres civis ao seus pastor, por medo ou por ignorância, em troca de necessidades básicas. Aqueles que se atrevem a ter vontade própria são sacrificados.
No Brasil atual, os esquerdistas que sempre foram contra a censura durante a ditadura, no momento em que estabeleceram-se como classe dominante, a chamada elite sindical, fazem de tudo para restabelecer a censura. As desculpas são as mais variadas, mas todas baseiam-se na idéia de que o povo é um formigueiro. A classificação indicativa, que na verdade é proibitiva, e que foi estabelecida agora no governo Lula, nada mais é do que a censura prévia que existia durante a tão mal falada censura da ditadura. É claro que as restrições dos censores irão crescer aos poucos, na medida em que o assunto for se amornando.
O interessante desse grupo é que ele tem o poder de multar telejornais e até mesmo cassar a concessão das TVs. Ou seja, qual emissora de TV terá coragem para investigar e mostrar os desfalques do presidente do senado no futuro? Qual emissora de TV terá coragem de exibir uma entrevista da ministra do turismo mandando o povo relaxar e gozar por causa do caos aéreo? E o irmão do presidente, este então com certeza virará um santo.
Mas é claro que a desculpa primordial para o estabelecimento da censura é garantir que as crianças brasileiras não assistam programas que incentivem ao sexo e à violência. Isso é o mesmo que dizer: Pais, vocês não sabem cuidar de seus filhos, quem sabe é o estado. É aquela ideologia do gado já referida. Mas não se pode esquecer que é fato que muitas famílias não têm estrutura para educar seus filhos. Deixam-nos ao léu. Um argumento que justificaria inteiramente a censura então é dizer que as crianças acabam por assistir a qualquer programa que queiram.
Chegamos então ao grande impasse. É correto então afetarmos toda a população e o futuro da liberdade de um país por causa de famílias desajustadas? O problema é que estão tentando colocar a culpa da violência no meio errado, de forma a ter uma desculpa para limitar a liberdade de expressão. E o pior é que muitos aceitam isso como se fosse um benefício, quando há alternativas viaveis, como investir num serviço de assistência social que funcione e fazer campanhas educativas sobre o tema alertando aos pais.
É preciso definir o que é mais perigoso, um estado com todo o controle dos meios de comunicação, ou correr o risco de algumas crianças assistirem um filme em que ocorram assassinatos.
Por fim, é bom explicar o porquê de no ínicio do texto eu ter dito que felizmente ainda existam tantos que sejam contra a livre circulação de informações. Sem eles não saberíamos porque somos a favor. A expressão clichê "a unanimidade é burra" define tudo, e só com meios de comunicação livres e independentes do governo podemos garantir que nunca haja unanimidade. Graças a isso hoje ainda podemos discutir esse assunto sem sofrermos a consequência de não aceitar ser apenas mais uma formiga.
3 comentários:
1984. Esse texto me lembra 1984, o livro de G.Owel. E eu fiquei surpresa em saber que o escritor era de esquerda... Porque é isso que a esquerda faz no meu país hoje em dia. Mas também lembra Fazenda Modelo, aquele onde os porcos dominam uma propriedade privada. Daí no Jornal Nacional divulgam que temos menos universitários que a Argentina, e que a maioria dos universitários de São Paulo e Rio de Janeiro não costumam ler nada além dos livros didáticos. Número de universitários e atividade intelectual não deve ter ligação direta com desemprego, talvez por isso nem população nem governo se mobilizem.
Se gostam tanto do Fidel por que não se mudam pra Cuba?
Não se mudam porque é pura hipocrisia a defesa do regime cubano. Assim como para os Europeus é muito bonito que um país da américa latina tenha um presidente analfabeto, mas eles nunca elegeriam um para seus paises.
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